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O hino rio-grandense é racista?

 


Reflexões sobre o hino rio-grandense motivadas pela manifestação de vereadores de Porto Alegre que em sua cerimônia de posse no dia 1º de janeiro de 2021 não cantaram em protesto aos versos que dizem "povo que não tem virtude acaba por ser escravo".

Conheça outras versões do hino rio-grandense cantadas antes da letra de Francisco Pinto da Fontoura ser oficializada.

A primeira letra feita para ser o hino da República Rio-Grandense, teve a autoria do Capitão Farroupilha Serafim Joaquim de Alencastre: 


No horizonte Rio-grandense se divisa a divindade, 
extasiada em prazer, 
dando viva à liberdade. 
Coro ... 
Da gostosa liberdade brilha entre nós o clarão;
da constância e da coragem eis aí o galardão.
Avante ó povo brioso nunca mais retrogradar, 
porque atrás fica o abismo que ameaça vos tragar. 
Coro ... 
Salve o vinte de setembro dia grato 
e soberano dos heróis continentistas, ao povo republicano. 
Coro ... Salve, ó dia venturoso risonho 
Trinta de Abril, que aos corações patriotas encheste de gostos mil.
Coro ...

(CORTE REAL, 1984, P.328- 329) 


Durante este período de conflitos entre Republicanos e Monarquistas, surgiu outra letra para ser o hino Rio-Grandense, composta por Francisco Pinto da Fontoura, conhecido posteriormente como O Poeta dos Farrapos: 


Como a aurora precursora do farol da divindade 
foi o vinte de setembro precursor da liberdade 
Coro ... 
Mostremos valor, constância, 
nesta ímpia, injusta guerra, 
sirvam nossas façanhas de modelo a toda a terra. 


Entre nós reviva Atenas 
para assombro dos tiranos; 
sejamos gregos na glória 
e na virtude romanos. 
Coro ... 
Mas não basta pra ser livre ser forte, aguerrido e bravo; 
povo que não tem virtude acaba por ser escravo. 
(CORTE REAL, 1984, P.329-330) 


Ainda existe a versão publicada na edição n. 63 de O POVO do dia 04 de maio de 1839, trazendo algumas modificações na letra de Serafim Alencastre, porém, com autor desconhecido e denominado: Hino da Nação.


Nobre povo rio-grandense, 
Povo de heróis, povo bravo! 
Conquistaste a independência, 
Nunca mais serás escravo.
Coro ... 
Da gostosa liberdade, 
brilha entre nós o clarão; 
da constância e da coragem eis aqui o galardão. 
Avante ó povo brioso, nunca mais retrogadar , 
porque atrás fica o inferno que vos há de sepultar. 
Coro ... 
O majestoso progresso é preceito divinal não tem melhor garantia nossa ordem social. Coro ... O mundo que nos contempla, que pesa nossas ações, bendirá nossos esforços, cantará nossos brasões.

Coro ...

(CORTE REAL, 1984, P.330-331)


FONTES

SIEBURGER, Enio Souza; KONTZ, Leonardo Betemps; JÚNIOR, Odilon Leston. O hino republicano rio-grandense: Versos e Controvérsias. Revista Caribeña de Ciencias Sociales.

CORTE REAL, Antonio. Subídios para a história a 2ed. Porto Alegre: Movimento, 1984. 

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